Ao amanhecer do dia da colheita da Quinquagésima Edição dos Jogos Vorazes, o medo toma conta dos distritos de Panem. Nesse ano, em comemoração ao Massacre Quaternário, o dobro de tributos será levado de suas casas. No Distrito 12, Haymitch Abernathy está tentando não pensar muito nas suas chances de ser sorteado – só quer sobreviver ao dia e passar um tempo com a garota que ama. Mas, ao ser escolhido, todos os sonhos de Haymitch desmoronam. Ele é separado da família e da namorada e enviado para a Capital com outros três tributos do Distrito 12: uma menina que considera quase uma irmã, um rapaz viciado em calcular chances e apostas, e a garota mais arrogante da cidade. Conforme os Jogos se aproximam, Haymitch compreende que está tudo armado para o seu fracasso, mas parte dele deseja lutar... e deseja também que essa luta reverbere muito além da arena mortal.
Se tem algo que Suzanne Collins sabe fazer bem, é contar histórias que parecem distantes, mas que, no fundo, gritam verdades sobre o mundo real. Amanhecer na Colheita não foge à regra. E, considerando o cenário atual — com manipulação da informação, submissão política e revoluções — essa leitura chega em um momento quase profético.
Dessa vez, acompanhamos um jovem Haymitch Abernathy, antes de se tornar o mentor alcoólatra e sarcástico que conhecemos em Jogos Vorazes. Aos 16 anos, ele é escolhido para participar da 50ª edição dos Jogos — um Massacre Quaternário brutal, televisionado e patrocinado pelo puro sadismo da Capital, deixando bem explicito o poder que eles possuem sobre os 12 distritos. Desde o início, a narrativa deixa claro: cada pequeno ato de rebeldia contra a Capital traz consequências severas, e Haymitch vai sentir isso na pele.
"Fique viva, toque as suas músicas, ame seu pessoal, viva a melhor vida que puder. E eu estarei lá na Campina, esperando você."
Mas não é só ele que brilha nesse livro. Outros tributos do Distrito 12 são apresentados, e a Maysilee Donner, em especial, rouba a cena com sua língua afiada e determinação. Seu papel na história ressoa de um jeito forte, tornando impossível não se apegar.
O grande mérito de Amanhecer na Colheita é a maneira como Suzanne Collins nos obriga a refletir. Se em A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes enxergamos a construção de um vilão, aqui vemos o nascimento de uma mente quebrada pela brutalidade de Panem. Faz todo sentido que, no futuro, Haymitch seja um homem cínico, descrente e sempre de copo na mão.
"Eles não vão usar nossas lágrimas como entretenimento."
E talvez, a pergunta mais incômoda que o livro nos deixa seja: nós, como pessoas, leitores, não estamos nos comportando exatamente como a Capital? É um convite a olharmos para a nossa realidade e para os absurdos que vem ganhando força nos últimos tempos. Se não fizermos nada agora, para onde estamos caminhando?
"O sol continua nascendo, isso é inevitável. Mas para que mundo ele está nascendo? Para a colheita ou para a liberdade?"
O final tem um gosto agridoce de despedida, e a sensação é de que esse pode ser o último vislumbre que teremos desse universo. Se for, Collins entrega uma conclusão digna e impactante, que vai ecoar por muito tempo na mente dos fãs.
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