Olivier Guez constrói em O Desaparecimento de Josef Mengele um retrato minucioso e inquietante da fuga e dos anos finais do médico nazista, conhecido por seus experimentos cruéis em Auschwitz. A obra, apesar de não ser ficção, adota uma narrativa romanceada, permitindo ao leitor uma imersão intensa na trajetória do criminoso enquanto ele evade a justiça e se esconde em diversos países da América do Sul.
Autora: Olivier Guez
Gênero: Ficção
Data de Lançamento BR: Janeiro de 2019
Número de Páginas: 224
Editora: Intrínseca
Minha avaliação: 3/5
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Josef Mengele, o médico nazista que ficou conhecido como Anjo da Morte no campo de concentração de Auschwitz, escolhia o destino de suas vítimas: as câmaras de gás, os trabalhos forçados ou seu laboratório, alimentado diariamente com anões, gigantes, deformados e gêmeos para pesquisas e experimentos macabros. Ele consegue escapar dos tribunais no fim da Segunda Guerra Mundial, mudando-se para a América do Sul em 1949, quando chega à Argentina.Escondido sob vários pseudônimos, Mengele acredita poder levar uma vida nova em Buenos Aires. A Argentina de Perón é benevolente, o mundo inteiro quer esquecer os crimes cometidos pelos nazistas. Mas a perseguição recomeça e o médico precisa fugir para o Paraguai e depois para o Brasil. Sua mudança de esconderijo para esconderijo não cessou até a sua morte misteriosa em uma praia brasileira no ano de 1979.Como um médico da mais temida organização nazista pôde passar despercebido por trinta anos? O desaparecimento de Josef Mengele é um mergulho em um mundo corrompido pelo fanatismo, a política, o dinheiro e a ambição, habitado por velhos nazistas, agentes do Mossad, espiões e ditadores. Olivier Guez traça a odisseia da fuga de Josef Mengele pela América do Sul, em um romance-verdade sobre sua vida clandestina depois da guerra.
O livro não se limita a relatar os fatos. Ele explora verdades da impunidade e os dilemas morais que envolveram não apenas Mengele, mas também aqueles que o ajudaram – e principalmente aqueles que o ignoraram – ao longo de sua fuga. A América do Sul do pós-guerra, especialmente a Argentina e o Brasil (pois é gente), é retratada como um cenário de sombras e silêncios, onde nazistas encontraram refúgio e, em alguns casos, até acolhimento.
Outro ponto de destaque é a decadência progressiva de Mengele. O médico que um dia exerceu poder absoluto sobre a vida e a morte, gradualmente se vê reduzido a um fugitivo paranoico, abandonado por seus aliados e consumido pela própria insignificância. Essa desconstrução é um dos aspectos mais impactantes da narrativa.
A escrita de Guez combina o rigor de uma pesquisa histórica bem fundamentada com uma abordagem literária envolvente. Sua experiência como jornalista se reflete na profundidade da investigação e na precisão dos fatos apresentados, mas o grande diferencial do livro está na forma como ele dá vida aos acontecimentos. Em vez de um relato frio e documental, o autor adiciona camadas filosóficas e sociológicas, fazendo com que o leitor reflita sobre impunidade, o peso da memória e as redes de proteção que possibilitaram a fuga de criminosos nazistas.
"O tempo corrói até os monstros mais brutais, e a história os transforma em sombras irrelevantes, mas suas cicatrizes permanecem no mundo que deixaram para trás."
Em minha opinião, indico essa leitura para quem se interessa por História, Jornalismo investigativo e reflexões sobre a memória coletiva de maneira geral. Sem romantizar seu personagem central, Olivier Guez o expõe em toda sua fragilidade e horror, mostrando que a justiça nem sempre chega na forma que esperamos, mas que o peso dos crimes cometidos jamais desaparece.
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